sexta-feira, 15 de abril de 2011

História do Metodismo no Brasil (Parte 06)

PRIMÓRDIOS DO METODISMO NO BRASIL

Aos metodistas cabe a honra de terem sido os iniciadores das missões evangélicas no Brasil, e os segundos na América Latina. Os presbiterianos, dos Estados Unidos, precederam-nos na Argentina em 1825, mas, poucos anos depois tiveram necessidade de encerrar suas atividades entre os portenhos. Entretanto, o Rev. Fountain Pitts retomou a marcha e em 1836 organizou em Buenos Aires a nossa primeira congregação. Já vimos que ao tempo da vinda dos metodistas para o Brasil, havia algumas denominações protestantes estabelecidas no Rio de Janeiro. Elas, todavia, se preocupavam apenas em dar assistência religiosa aos seus conterrâneos europeus, na língua mãe dos mesmos. Porém, os discípulos de João Wesley deslocaram-se para cá com o firme propósito de transmitir ao povo brasileiro o conhecimento do Evangelho através da divulgação da Bíblia e da pregação. Um panorama da época Nos dizeres do Rev. Pitts a época era das mais oportunas, não devendo ser desprezada. A porta estava aberta, mas um dia poderia fechar-se. De fato o sopro da liberdade corrida por toda a América. O Brasil, á semelhança de outras nações do contingente, acabara de obter a sua Independência. As relações entre o novo governo e a Santa Sé achavam-se estremecidas. A moral do clero deixava muito a desejar. O catolicismo pouco mais tinha a oferecer aos habitantes, além dos ofícios em latim, de procissões e, de quando em quando, um sermão em homenagem a determinado santo. As escolas de Primeiro Grau eram raríssimas; as estradas poucas e más; deficientes os meios de comunicação. A guerra dos Farrapos, que estourou no Sul, em 1835, perturbou a jovem nação durante dez anos. Mas, apesar de tudo, as condições políticas, o intercâmbio comercial com outros países, a vinda de imigrantes, e, enfim, o surto que tomava a agricultura, concorriam para animar o progresso do Brasil. Os metodistas também ensejavam dar a sua contribuição.

Os metodistas e a capital do Império

Os nossos pioneiros escolheram para quartel-general da obra a incetar, a cidade do Rio de Janeiro, sede então da Corte. Ali vivia o príncipe D. Pedro, futuro segundo imperador do Brasil. Nela estavam as representações de países estrangeiros, o Parlamento, a Regência, as grandes casas comerciais, a elite, além de pessoas de outras categorias sociais, e notadamente numerosos escravos negros. Sob estes recaiam os trabalhos mais deprimentes e penosos, como a venda ambulante nas ruas e o carregamento de mercadorias no porto, mas é preciso não esquecer os que serviam em casas ricas, desfrutando da amabilidade do Sinhô e da Sinhá. A cidade possuía algumas ruas, todas estreitas e geralmente calçadas com pedras. A mais importante era a Direita, depois a da Quitanda, centro do comércio de tecidos, e a do Ouvidor, onde se vendiam artigos de luxo. Igrejas havia uma porção, destacando-se pelo vulto a da Candelária. Hospitais também, sendo mais notável por sua antiguidade e ações a Santa Casa de Misericórdia, que atendia a toda a população indistintamente e mesmo aos marujos estrangeiros. Poucos os hotéis, sobretudo os de boa qualidade. Em matéria de ensino sobressaíram o educandário dos jesuítas, a Academia Imperial de Belas Artes, a Escola de Medicina e, em consonância com eles, a Biblioteca Nacional. Existiam, outrossim, cerca de três dezenas de escolas públicas e particulares. A influencia francesa era grande, até na imprensa. Circulavam diversos jornais. Os transportes urbanos (bondes), inaugurados recentemente, eram de tração animal. As ruas, iluminadas a lampião.

O Rev. Spaulding vem instalar a missão

Tendo acolhido favoravelmente as informações prestadas pelo Rev. Pitts, a Igreja Metodista nos Estados Unidos escolheu o Rev. Justin Spaulding, da Conferência Anual da Nova Inglaterra, para a missão no Brasil. Antes tinha ele sido designado para trabalhar na zona de Oregon, na costa do Pacifico, E.U.A., de que, entretanto desistiu. Uma vez aceita a honrosa, mas difícil tarefa e providenciados os meios necessários, embarcou o denodado missionário em Nova York a 23 de março de 1836. Em sua companhia vieram a esposa, o filhinho George Levi e a sua fiel empregada. Chegaram ao Rio de Janeiro a 29 de abril. Ate conseguir moradia na cidade, o Rev. Spaulding e família foram hóspedes por alguns dias do Sr. Thompson, o dedicado negociante inglês já nosso conhecido. Poucos dias depois, em sua própria residência, numa quarta-feira, deu inicio aos cultos em inglês com a presença de trinta a quarenta ouvintes. E não só isso, pregava também na casa daquele amigo, a cerca de três quilômetros, no sábado de manhã e a noite. Como, entretanto, houvesse expectativa de melhoria no trabalho local, o Rev. Spaulding alugou um edifício maior, no começo de junho, a razão de 31$000 por mês, no Largo da Glória. O novo salão comportava cento e cinqüenta a duzentas pessoas. Então passou a dirigir os cultos, ali, todos os domingos a noite, além do que começou a reunir crianças e jovens em Escola Dominical. No inicio, o numero destes oscilou entre doze e dezoito, mas chegou a alcançar ate cinqüenta. Organizou para os mesmos uma biblioteca, tendo os alunos contribuído certa vez com a quantia de 12$000. É interessante, outrossim, que a obra se estendeu a gente de cor, pois o arejado pastor criou duas classes para os negros, uma em inglês e outra em português. “O negro também tem capacidade de aprender e como as demais pessoas pode receber a Graça de Deus”, escreveu Spaulding, o qual se manifestou igualmente contra a escravidão por mais de uma vez.

Fonte: História do Metodismo no Brasil - José Gonçalves Salvador - Imprensa Metodista

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